Fala sério, qual o problema da juventude
do século XXI?
Mais uma vez estampam-se os noticiários
com um caso de aluno do ensino fundamental que invade a escola e sai matando (dessa vez a facadas) friamente quem
encontra pela frente - colegas ou não de sala, professores e funcionários.
Onde? Nos EUA.
Nesse país esses casos até são comuns. Eu,
já nem me choco tanto.
O que vem deixando preocupada a é minha
curiosidade que reacende
a cada novo caso desse de violência
norte americana:
"por que o jovem daquele país é tão
violento?
Por que age com tamanha frieza contra
aqueles que,
muitas vezes, fazem mais parte de sua vida
do que sua própria família?!"
Sempre fico pensando nestas
questões...
será que nos EUA essa situação de tamanha
violência entre os seus jovens
já não deve ser tratado como um caso de
"segurança pública"?!
(...)
Bom... mas o que me fez vir aqui escrever
e desabafar
foi mesmo um sentimento que tem cada vez
mais tomado conta de meus receios profissionais - sim por que sou
professora, educadora por ofício:
"que papel a escola brasileira
(meu lócus de trabalho que POR ACASO tem a
finalidade de EDUCAR a juventude do meu país tendo a mim como um dos principais
ATORES neste sentido)
tem desempenhado na vida desses
jovens?
Por que eles estão cada dia mais
agressivos com os colegas, com seus professores, com gestores e
profissionais?
Por que depredam cada vez mais os
patrimônios escolares (paredes, cadeiras, áreas comuns) e seus próprios materiais (livros,
cadernos, estojos)?
Por que tudo o que representa e significa
alguma relação com o universo escolar é tratado pelos nossos alunos de forma,
crescente, tão negativa e agressiva?".
Isso tudo de fato me assusta, me
preocupa.
Mas principalmente, me entristece.
Entristece-me por que essa minha
observação é referente a universos múltiplos, logo, infelizmente, a meu ver, e
diante das minhas experiências,
é uma situação generalizada:
não importa se escola pública ou privada
pequena/grande.
A reflexão que me persegue é:
"por que a escola, e tudo o que a
envolve, é visto de maneira tão negativa pelos alunos? Por que designam a ela
agressividade e violência quando deveriam alí depositar - no mínimo -
interesse?".
Acredito (inclusive me incluo, como
educadora escolar, nesse nicho)
que esses problemas são frutos de inúmeros
fatores que associados têm resultado nessa situação toda.
Mas não posso deixar de me entristecer ao
perceber que entre esses fatores há a nítida percepção de que os alunos muito
pouco ou NUNCA se identificam com a instituição/ambiente escolar.
Sim, por que se houvesse o mínimo de
identificação e, consequentemente, de zelo, cuidado, interesse - e quiçá carinho - pela escola MUITO de
tudo isso não existiria.
Como não trazer um tanto dessa
"culpa", para mim - educadora escolar?
Devo estar fracassando como educadora
neste sentido...
não consigo contribuir
significativamente para que estes alunos se identifiquem com o ambiente
escolar, com seus fazeres, com o aprender que ele pode lhes
proporcionar...
Apesar de acreditar que a
"culpa" não é de um só sujeito, penso que todos nós atores escolares,precisamos
estar preocupados e empenhados nessa causa:
a da significação da aprendizagem.
Esse é o segredo do sucesso escolar a meu
ver.
Essa sim é a grande vilã dessa situação: a
significação da aprendizagem. Aliás, a falta dela.
Assim, o aluno, que não entende o porquê
vai à escola,
nem por que precisa adquirir aquele monte de conteúdo muito menos para que
boa partes serve, só pode mesmo se "revoltar" contra essa
obrigatoriedade de passar a maioria de sua infância e adolescência frequentando
um espaço que lhe impõe um monte
"insignificâncias".
Resultado? Violência - agora cada vez mais
- física e depredativa contra tudo o que represente isso.
O problema, claro, vai MUITO mais além da
insignificância dos saberes escolares:
- essas crianças e jovens são no máximo
alunos, pouquíssimos descobriram o prazer de ser estudantes.
- muitos moram em casas, mas não possuem lares.
- a família deles é completamente desestruturada e esfacelada. São expostos
cotidianamente a situações que nem muitos adultos resistiriam incólumes.
- a referência de respeito e autoridade praticamente não existe.
- os conceitos de limite e dever estão em extinção.
- não
possuem infância de fato, brincando e interagindo saudavelmente com outras
crianças e assim socializando e dividindo saberes, brinquedos, situações e
interesses.
Some-se a isso tudo um mundo que
apresenta, principalmente via mídia e eletrônicos,
TUDO a TODOS descomedidamente.
A violência e o desrespeito são ideias
disseminadas subliminarmente e muitas vezes explicitamente.
E o que para mim, causa maior temor:
falta, no mundo "moderno", Deus
no coração das pessoas.
O ateísmo cresce na velocidade da luz e
junto com ele
o destemor, a valentia desmedida, o
atrevimento e o sentimento de que "nada temerei", “posso tudo”...
Por isso, quando encontro algum aluno que
possui uma religião, me alegro. Alegro-me profundamente (independente de qual religião
seja) por que sei que alí existe orientação, rumo, existe um "por
que" e um limite para suas ações e desejos.
As coisas estão difíceis e acredito, infelizmente,
ainda podem piorar demais.
Só me pergunto até quando vamos ficar, no
máximo, analisando-as.
Quando vamos começar a elaborar planos de
ação e APLICA-LOS a fim de resolver isso tudo?
Empurrar esses problemas com a barriga não
vai resolvê-los.
Culpabilizar "a" ou
"b" e esperar que outros resolvam também não vai melhorar a situação.
É preciso agir. E rápido.
A juventude está transviada e vai
piorar.
Cabe a nós todos, e também a escola,
aceitar ou virar o jogo.
MARI
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