quinta-feira, 26 de junho de 2014

Entender e Aceitar.


Penso em como é complexa a função dos psicólogos:
entender o que se passa no íntimo e profundezas de nossos sentimentos e mentes
é mesmo, me parece, como mergulhar num poço sem fundo e sem perspectivas...
afinal, tudo pode acontecer.
Entender o que o outro pensa é praticamente entender o que o outro é.
Porque, em grande parte, somos aquilo que pensamos.
Ultimamente tenho pensado mais nisso a partir da (re)leitura de dois GRANDES filmes
que revi: "12 anos de escravidão" e "O julgamento de Nuremberg".
Em tantos aspectos pude refletir sobre a figura do anti-semita e o escravista...
como ambos possuem convergências, tristes.
E, a partir daí, me vi pensando como é importante entender as pessoas em TODO o entorno no qual ela está inserida (histórico, cultural, educacional, econômico, social, político...).
São tantas as complexidades, referências, influências e inferências que faz de nós o que somos... somos o resultado de todas elas e, mais do que isso, somos o reflexo do que fazemos com todas elas juntas.
Entender o outro não pressupõe - de forma alguma - que o aceitemos ou que o livremos da eventual culpa que tenha em situações A ou B.
Entender o outro nos faz, ao menos aos meus olhos, perceber sua essência e seu comportamento
condicionado a ideologias e filosofias - mesmo que implícitas e por ele não reconhecidas.
O dono do escravo o vê, lê, cheira, percebe e trata como uma mercadoria, uma coisa.
O anti-semita, olha para o judeu como um rato, uma coisa que é culpada por suas desgraças
e que precisa ser eliminada.
Nenhum dos dois vê no outro uma pessoa, gente, seres humanos. Logo, suas ações para com esses,
não são humanas, e nem deveriam...
Vejam, longe de mim parecer que estou aqui defendendo a inquestionável
desumanidade de escravistas e anti-semitas, mas percebamos também como se engrenda seus pensamentos e como para esses homens desumanos em seus atos, segundo eles, não há desumanidade.
E ai, você entende por que mesmo a beira da forca, grandes nazistas morrem dando "Heil"a Hitler.
A que nível de desumanidade, de maldade - no sentido literal do termo - pode chegar uma pessoa, um ser humano, se embriagado por ideologias ou culturas manipuladamente reproduzidas?!
No final, concluo essa imersão reflexiva de semanas pensando que...
se podemos com a força da filosofia materializada em cultura, ideologia, discurso e práticas ser
DESUMANOS E MAUS e aceitar isso com uma naturalidade assombrosa, por que não podemos
fazê-lo para sermos mais HUMANOS, FRATERNOS E EM PROL DO E PARA O BEM?!
Por que foi e é tão difícil para o homem "amar o outro como a si mesmo?!".
Por que foi e é tão difícil ter tempo para causas coletivas, para o que diz respeito ao bem coletivo?
Por que foi e é tão difícil lutar pelo bom, pelo justo e pelo melhor do mundo?!
É como se o caminho do egoísmo, do individualismo, do narcisismo e do egocentrismo fosse sempre mais interessante, favorável e indispensável...
Como podemos assistir a miséria alheia e não nos compadecer?
Como podemos olhar isso tudo e pensar: "e o que eu tenho a ver com isso?"
Tem um ditado popular recente que diz que
"quanto mais conheço os homens mais amo meus cachorros"...
fico pensando se devemos aceitar esse tipo de constatação.
Se devemos aceitar nossa "natureza" de "lobos dos próprios homens" como diria o pensador Hobbes.
(...)
Ainda, se deterministamente o homem assim o fosse (o que eu não acredito),
ainda assim, há longa distância entre entender e aceitar.
Deus nos deu o livre arbítrio. Dentro de nós, acredito, existem sementes do mal e o do bem.
Cabe a nós, escolher para qual delas direcionaremos nossos regadores ao longo da vida...
Entender não é aceitar.
Eu não aceito o mal, a desumanidade e a simples assertiva de "não tenho nada a ver" com o outro ou a miséria do mundo.
Sou (somos) sujeito da minha história e da sociedade na qual me insiro hoje
- assim como o homem da pre-história, antiguidade, do medievo e da modernidade.
Mesmo que assumamos a covarde postura da omissão, ainda assim, não nos livraremos das consequências das nossas ações - ou da ausência delas.
Eu entendo, mas não aceito.
MARI

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